Monday, August 28, 2006

Lhes conto algumas novidades boas. Já temos ap! Depois de visitar mais de 30 apartmentos em 5 dias, com muuuuito suor, finalmente somos gente na terrinha. A minha maratona de procura calhou com os dias mais quentes do ano na cidade, adicionando os fatos de que Haifa é uma cidade repleta de ladeiras e que eu ainda conheço pouquíssimo. Ou seja, foram muitos quilômetros andados a pé, subindo ou descendo ladeiras, sob o sol escaldante e sozinho na maioria das vezes. Como a Tamara tem prova nos próximos dias, combinamos que eu iria ver a maioria dos aps sozinho e caso eu me apaixonasse por um, eu chamaria ela pra ver em seguida.

O ap é lindo! Moderno, reformado, bem cuidado, móveis novos (até televisão eles vão deixar!). É super bem localizado no Mercaz Hacarmel, onde tem vários pubs, cafés, restaurantes, cinemas... O proprietário é um jovem da nossa idade, que até agora morava no ap e está indo passar uma temporada de estudos de arquitetura na Itália. Gente do bem.


Aqui tem algumas fotos que tirei no dia da primeira visita pra mostrar pra Tamara. A primeira é o nosso quarto e a segunda vai virar a nossa sala. Além disso, tem uma varanda fechada que dá pra virar um quarto de visitas, fora uma pequena sala de trabalho que dá pra instalar os computadores e coisa e tal. A área de serviços tem uma vista maravilhosa da cidade. Uma pena que a vista não é de frente, mas também, se fosse, seria o dobro do preço.








A outra novidade é que hoje a noite to indo pros EUA me encontrar com meu irmão e Renata, num camping na Nova Inglaterra (Maine). Até barraca eu to levando na mala. Dia 5, eu vou de lá pro Brasil, indo direto pra Bahia, Praia do Forte, com a família da Tamara, passar o 7 de setembro. Chego no Rio dia 10 e fico até o início de outubro. Um grande abraço e até!

Friday, August 25, 2006

Das diversas coisas que nossos vizinhos radicais fazem com espantosa perfeição, a que mais me incomoda é o fato deles sempre conseguirem fazer com que Israel se desloque para a direita do mapa político regional.

Ontem, uma pesquisa publicada no jornal Yediot Aharonot, indica que a maioria dos israelenses, 63%, acha que o primeiro ministro Olmert deveria renunciar após o “fracasso” na guerra. Na mesma pesquisa, uma pergunta questionando em quem você votaria para primeiro ministro, com 45% dos votos, nosso ilustríssimo líder da direita, aniquilado nas últimas eleições da Knesset há 5 meses atrás, quando todos pensavam que era o fim da sua carreira política… Biniamin Netaniahu!

Nas últimas 2 décadas somos recheados de histórias desse gênero. Aí vão:

* Depois do assassinato de Rabin, em 95, seu parceiro na implementação dos Acordos de Oslo, Shimon Peres, assumiu interinamente o cargo e tinha tudo para dar sequência ao trabalho do amigo e vencer as eleições que aconteceriam no ano seguinte. Eram tempos de verdadeiro otimismo em Israel. Tempos em que o Shalom Achshaiv (Paz Agora) colocava 300.000 pessoas em eventos pela paz numa praça de Tel Aviv. Às vésperas das eleições, uma sequência violenta de atentados terroristas em Israel faz a opinião pública mudar de lado. O povo passou a optar pela política da Segurança com Paz (direita) ao invés da política vigente Paz com Segurança (esquerda). E dá-lhe Bibi nas urnas!

* Em 99, a esquerda conseguiu voltar ao poder depois de uma atuação desastrosa do então PM, Bibi, com a promessa de voltar às negociações de paz com os palestinos. Barak tentou fazer muito mais e foi derrubado 1 ano depois, não pela direita israelense, mas por nossos vizinhos palestinos. Mais precisamente, Yasser Arafat. Após coordenar unilateralmente a retirada das tropas israelenses da faixa de segurança no sul do Líbano em 2000 (que as consequências são exatamente essas que nós estamos acompanhando agora), Barak ofereceu 97% do território da Cisjordânia para que seu amigo Yasser pudesse fundar seu tão sonhado estado (ou nem tanto), mas… Yasser recusou. “Ou Jerusalém, ou nada!” Era o fim de Barak. No ano seguinte, é eleito o novo líder da direita e velho conhecido dos libaneses, Arik Sharon.

* Sharon se saiu melhor do que a encomenda e conquistou o coração de boa parte da esquerda com o plano de retirada unilateral dos territórios. Sharon atingiu a incrível marca de primeiro ministro com maior aprovação do povo de toda história de Israel. Saiu da direita e foi pro centro levando consigo uma legião de deputados e eleitores. Quando mais uma vez, parecíamos ter encontrado o caminho certo para a convivência com nossos vizinhos, a partir do dia seguinte da retirada das colônias na Faixa de Gaza, fomos presenteados (e ainda estamos sendo!) com lançamentos constantes de bombas kassam às cidades israelenses vizinhas da Faixa. Mais uma tentativa dos palestinos de nos impôr um governo de direita menos flexível e que vai contra os seus ideais (ou nem tanto).

* 6 anos após a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano, a guerra atual mostra uma história bem parecida com os exemplos acima citados. Afinal de contas, o que será do Hesbollah se Israel assinar um acordo de paz com o Líbano? Do que eles vão viver?

Hoje houve uma manifestação com muitas famílias de soldados que caíram na guerra pedindo a saída do PM Olmert. A manifestação foi feita em frente ao túmulo da ex-PM Golda Meir, sugerindo que Olmert siga como exemplo o gesto de Golda que renunciou após a “derrota moral” na Guerra de Yom Kipur.

Eu acho a analogia com a guerra de Yom Kipur interessante. Se nós realmente perdemos essa guerra de agora, isso pode ser um bom sinal. Explico: Depois de todos os esforços que Israel fez para a paz nos últimos 15 anos, quem saiu fortalecido? A direita israelense e os árabes radicais. Já depois da guerra “perdida” de Yom Kipur, Israel assinou seu primeiro acordo de paz 6 anos depois. Quem sabe não estamos entrando em verdadeiros tempos de paz?

Thursday, August 24, 2006

Eu estava vagando pelo Youtube, pensando na importância do Branco Mello pros Titãs, quando me deparei com um uma performance ao vivo de uma das melhores músicas, da melhor banda da atualidade e, talvez, a melhor banda pós-Beatles de que tenho conhecimento.

Essa música, aliás, segundo os próprios autores, nasce na inspiração de 2 músicas dos Beatles: I am the Walrus (Magical Mistery Tour, 1967), pela experiência de desmontar a música e montá-la novamente pra ver se faz algum sentido; e Happiness is a Warm Gun (The White Album, 1968), onde eles pegaram 3 músicas diferentes e encaixaram numa só.

Paranoid Android arrepia.

Paranoid Android
Radiohead
Álbum: Ok Computer, 1997


Tuesday, August 22, 2006

Foto de família



"Aquela ali da esquerda é minha tia Margot. A que tá do lado dela é minha cunhada Magali e a do meio é minha outra tia Francis que é irmã gêmea da Margot. Se bem que eu sempre confundo as duas. Elas são muito parecidas. A quarta é minha esposa Ana Bela. Ela não é linda?!? A última... a última piscou o olho e eu não to reconhecendo..."

Acabo de sair do supermercado e confesso que fiquei possesso com a mulher do caixa. Não havia fila e eu cheguei tranquilamente no caixa com a minha cestinha pra pagar as compras, sem muita pressa pra ir embora. Eu reparei que a atendente, sem uniforme, estava fazendo outra coisa no computador, totalmente compenetrada numa planilha em que ela analisava uns números, conversando com a mulher do caixa ao lado dela. Eu não atrapalhei, esperei que ela acabasse o que estava fazendo para então me atender, afinal de contas, eu não tinha muita pressa. Passado uns 3 minutos em que a mulher continuava com a cara grudada na tela e fingindo que não me via, a fila começou a se acumular atrás de mim e eu disse a ela:
- Slichá! (Dá licensa!) - tentando chamar a atenção da mulher.
Ela respondeu, ainda sem olhar pra minha cara:
- Rega! (Um momento!) - como quem dizia: “Você não tá vendo que eu tô ocupada?!?”
Continuei esperando, dessa vez um pouco mais puto e muito mais impaciente. Passou mais um minuto e ela me atendeu normalmente.

Passada minha irritação, comecei a pensar mais profundamente no assunto e lembrei de uma descrição que o Victor, depois de 2 anos vivendo aqui, certa vez me deu: “O israelense não é grosso. Ele é informal.” Ele tinha razão.

Aqui, a mulher que te atende no caixa não tem o sentimento de inferioridade em relação a você, consumidor, que uma profissional do mesmo ramo tem no Brasil, por exemplo. No Brasil, num bate-papo com um porteiro, fica muito claro que o porteiro é o porteiro (pobre, favelado, sem muito estudo, baixa remuneração e baixo esforço intelectual) e você é você (mais rico, instruído etc.). Isso ocorre naturalmente. Não por preconceito, necessariamente, mas por consequência natural da enorme desigualdade social que vive esse país. O mesmo acontece num restaurante, num posto de gasolina, na própria casa com a empregada doméstica e em vários outros exemplos.

Por exemplo: você tem todo direito de chegar num restaurante de mal humor, sentar, reclamar, não gostar de esperar pra ser atendido e reclamar de novo. Afinal, você é quem tá pagando. Agora, se o garçom acordou com a pá virada, brigou com a namorada e te atende de cara fechada… disso ele não tem direito. O garçom tem que estar sempre sorrindo, sempre agradando, porque ele é o servente e você é o servido. Essa cena é muito comum no Brasil, onde o dinheiro fala muito alto.

Em Israel não é bem assim. A mulher do caixa me deixa esperando porque ela me olha como se eu fosse igual a ela. Não importa se eu sou mais rico, se eu sou sou mais poderoso, se eu sou isso ou sou aquilo. O que importa é que ela também é um ser humano, que também trabalha e ganha seu dinheiro dignamente e que também tem o direito de ficar de mal humor quando quiser. Por isso eu repito: o israelense não é grosso. Ele é informal.

Monday, August 21, 2006

Recebi isso da minha avó. Achei interessante. Assim, a única revista que precisaria ser feita seria através do exame do toque.

Saturday, August 19, 2006

Uma pérola. Elis e Adoniran cantando Iracema.

Wednesday, August 16, 2006

Hoje, finalmente voltamos a Haifa após a guerra. Não estamos tão certos que a guerra tenha de fato terminado, mas essa trégua nos estimulou a voltarmos e começarmos nossa tão sonhada busca por um ap pra morar.

Na estação de trem em Tel Aviv fomos surpreendidos com um gesto lindo da companhia de trem: as passagens para os moradores do norte voltarem pra casa são gratuitas. Ficamos emocionados. Pequenos gestos que nos fazem ficar cada vez mais felizes, com um sentimento de que realmente estamos em casa aqui. Vejam o bilhete do trem que eles confeccionaram.


Além do preço 0,00 shekalim que não é difícil de entender, embaixo vem escrito:

Letzafon Beahavá - Ao norte com amor


Curtimos.

Tuesday, August 15, 2006

Agora algumas fotos da parte terrestre da Turquia.

A primeira foto é também na Capadócia, onde tem essas formações rochosas em forma de pirulito.



Essa é numa fábrica de cerâmicas.



Isso é um restaurante à beira do rio. Tamarinha e eu.



Foto "Chegamos em Istambul!" no aeroporto.



Mesquita Azul



Tamarinha e minha mãe numa pracinha que tem entre as mesquitas Azul e Santa Sofia.



Tamarinha e meu pai no mercado egípcio de especiarias.



Pôr do sol feio em uma mesquita qualquer.

Saturday, August 12, 2006

Finalmente, vou postar aqui algumas fotos da viagem pra Turquia que fiz semana passada. Devido à quantidade de fotos que tirei e, especialmente, ao passeio de balão que a gente fez na Capadócia, vou dividir o post em 2. Hoje eu coloco só algumas das mais de 40 fotos no balão, que aliás, é um prato cheio pra fotógrafos! Amanhã ou outro dia próximo eu coloco algumas fotos de Istambul e do restante da viagem.

Vou me privar nesse post a não ficar comentando foto a foto, porque acho que as fotos se comentam por si só. Simplesmente uma das melhores sensações da vida. Recomendo.














Tuesday, August 08, 2006

Cheguei de viagem anteontem e eu queria realmente que meu primeiro post desse retorno fosse uma descricao da maravilhosa viagem que fizemos pra Turquia nessa semana que passou, com fotos que ficaram maravilhosas. Infelizmente, essa guerra ainda nao acabou e me consome mais e mais a cada dia. Nao so pela guerra por si so, mas pela merda de cobertura que a midia internacional dedica a ela. Eu tambem nao gostaria de postar um artigo de um jornalista qualquer, visto que milhoes de artigos sao circulados por dia na internet e voces (pelo menos quem se importa pelo assunto) ja devem estar saturados, alem do que perde um pouco o sentido do blog. Mas como meus pais estao em Israel agora e eu nao tenho muito tempo nem acesso direto a internet, vou postar esse artigo que foi escrito por um colunista da Folha de SP e eu vibrei de tanto que concordei com ele. Enjoy!


Caros senhores terroristas


Começou a época das manifestações. Leio agora que, só em Londres, milhares de pacifistas saíram à rua para marchar contra a guerra no Oriente Médio. Nada a opôr. Marchar contra a guerra é simpático. Mais ainda: é cómodo. Você pode não saber nada sobre o conflito, nada sobre as razões do conflito, nada sobre as consequências do conflito. Mas é contra. Ser contra é a absolvição do pensamento: uma forma tranquila de colocar a flor na lapela do casaco e mostrar a sua vaidade moral ao mundo. Hitler invadiu a Polônia, exterminou milhões de judeus e procurou subjugar um continente inteiro? O pacifista é contra. Contra quê? Contra tudo: contra Hitler, contra Churchill, contra Roosevelt. Contra Aliados, contra nazistas. E quando os nazistas entram lá em casa e se preparam para matar o pacifista, ele dispara, em tom poético: "Não me mate! Você não vê que eu sou contra?" É provável que o nazista se assuste com a irracionalidade do pacifista e desapareça, correndo.

Capitão: "Eu não mandei você matar o inimigo?"
Soldado: "Sim, meu capitão. Mas ele era contra. Fiquei com medo."

O pior é que os pacifistas que saíram à rua não são contra tudo. Eles só são contra algumas coisas, o que torna o caso mais complexo e, do ponto de vista paranóico, muito mais interessante. Lemos as palavras de ordem e ficamos esclarecidos. "Não ataquem o Irã". "Liberdade para a Palestina". "Tirem as mãos do Líbano". Imagino que alguém deixou em casa as frases sacramentais. "Irã só quer paz". "Hizbollah é gente séria". "Israel é racista; não gosta de mísseis". Essa eu entendo. Israel retirou do Líbano em 2000. Retirou de Gaza em 2005. O Líbano e Gaza, depois da retirada, transformaram-se em parque de diversões para terroristas do Hizbollah e do Hamas (leia-se: do Irã e da Síria) que tinham por hábito sequestrar soldados israelenses e lançar rockets para o interior do estado judaico. Israel, inexplicavelmente, não gostava de apanhar com mísseis na cabeça, marca visível da sua intolerância. Os pacifistas de Londres deveriam denunciar essa intolerância: um Estado que retira dos territórios ocupados e, ainda por cima, não gosta de ser bombardeado, não merece o respeito da "comunidade internacional".

E a "comunidade internacional" não respeita. Desde o início das hostilidades, no sul do Líbano, regressaram acusações conhecidas de "desproporção" e "matança indiscriminada de civis". Apoiado: as acusações, não os ataques. Se Israel não gosta de ser bombardeado, deveria refrear seus ímpetos belicistas e escrever uma carta aos senhores terroristas. Para explicar o desconforto da situação. Exemplo:

"Caros senhores terroristas,

Boa tarde.

Nós sabemos o quanto vocês gostam de bombardear as nossas cidades, apesar de termos voluntariamente retirado dos vossos territórios. Longe de nós condenar a forma gentil como gostais de matar o tempo. Mas lançar rockets para o interior de Israel não mata só o tempo; também mata pessoas que estão nas ruas, nos mercados, nos cafés. Seria possível parar com esse desporto?

Nós, judeus, sabemos que o pedido é excessivo, na medida em que, segundo opiniões dos senhores terroristas, que nós compreendemos e até respeitamos, desde 1948, ano da fundação de Israel, que nós não temos qualquer direito à existência. Mas não seria possível chegar a um entendimento, apesar da palavra 'entendimento' ser ofensiva para a cultura dos senhores terroristas? Dito ainda de outra forma: não seria possível que o lançamento de rockets ocorresse apenas em dias salteados? Por exemplo: às segundas, quartas e sextas? Os sequestros seriam apenas às terças e quintas, de preferência mais ao final da tarde, depois da saída do trabalho, para deixar o jantar já pronto.

O pedido pode parecer excessivo mas gostaríamos de lembrar aos senhores terroristas --e, por favor, não vejam nas nossas palavras qualquer crítica-- que nós tivemos essa gentileza: avisar as populações civis de que o sul do Líbano seria atacado, pedindo-lhes que se retirassem. Estamos conscientes, e por isso nos penitenciamos, que esse aviso às populações civis acaba por retirar valioso material humano que os senhores terroristas gostam de usar como escudo para exibir na televisão. Mas não seria possível substituir seres humanos por sacos de areia, mais fáceis de usar e controlar?

Uma vez mais, queiram-nos perdoar a ousadia da sugestão. Estamos certos de que a racionalidade das nossas propostas será recebida com a irracionalidade dos vossos propósitos."

Depois, era só enviar a carta e, estou certo, esperar pela resposta. Que viria, como vem sempre, voando pelos ares.


João Pereira Coutinho, 30, é colunista da Folha de S.Paulo . Reuniu
seus artigos no livro "Vida Independente: 1998-2003", editado em
Portugal, onde vive. Escreve quinzenalmente, às segundas-feiras,
para a Folha Online.