Tuesday, August 22, 2006

Acabo de sair do supermercado e confesso que fiquei possesso com a mulher do caixa. Não havia fila e eu cheguei tranquilamente no caixa com a minha cestinha pra pagar as compras, sem muita pressa pra ir embora. Eu reparei que a atendente, sem uniforme, estava fazendo outra coisa no computador, totalmente compenetrada numa planilha em que ela analisava uns números, conversando com a mulher do caixa ao lado dela. Eu não atrapalhei, esperei que ela acabasse o que estava fazendo para então me atender, afinal de contas, eu não tinha muita pressa. Passado uns 3 minutos em que a mulher continuava com a cara grudada na tela e fingindo que não me via, a fila começou a se acumular atrás de mim e eu disse a ela:
- Slichá! (Dá licensa!) - tentando chamar a atenção da mulher.
Ela respondeu, ainda sem olhar pra minha cara:
- Rega! (Um momento!) - como quem dizia: “Você não tá vendo que eu tô ocupada?!?”
Continuei esperando, dessa vez um pouco mais puto e muito mais impaciente. Passou mais um minuto e ela me atendeu normalmente.

Passada minha irritação, comecei a pensar mais profundamente no assunto e lembrei de uma descrição que o Victor, depois de 2 anos vivendo aqui, certa vez me deu: “O israelense não é grosso. Ele é informal.” Ele tinha razão.

Aqui, a mulher que te atende no caixa não tem o sentimento de inferioridade em relação a você, consumidor, que uma profissional do mesmo ramo tem no Brasil, por exemplo. No Brasil, num bate-papo com um porteiro, fica muito claro que o porteiro é o porteiro (pobre, favelado, sem muito estudo, baixa remuneração e baixo esforço intelectual) e você é você (mais rico, instruído etc.). Isso ocorre naturalmente. Não por preconceito, necessariamente, mas por consequência natural da enorme desigualdade social que vive esse país. O mesmo acontece num restaurante, num posto de gasolina, na própria casa com a empregada doméstica e em vários outros exemplos.

Por exemplo: você tem todo direito de chegar num restaurante de mal humor, sentar, reclamar, não gostar de esperar pra ser atendido e reclamar de novo. Afinal, você é quem tá pagando. Agora, se o garçom acordou com a pá virada, brigou com a namorada e te atende de cara fechada… disso ele não tem direito. O garçom tem que estar sempre sorrindo, sempre agradando, porque ele é o servente e você é o servido. Essa cena é muito comum no Brasil, onde o dinheiro fala muito alto.

Em Israel não é bem assim. A mulher do caixa me deixa esperando porque ela me olha como se eu fosse igual a ela. Não importa se eu sou mais rico, se eu sou sou mais poderoso, se eu sou isso ou sou aquilo. O que importa é que ela também é um ser humano, que também trabalha e ganha seu dinheiro dignamente e que também tem o direito de ficar de mal humor quando quiser. Por isso eu repito: o israelense não é grosso. Ele é informal.

2 comments:

Anonymous said...

e se vc estivesse com pressa? a mulher iria te compreender e te atender mais rápido?

esse é o marketing de serviço q israel usa?! vou abrir uma empresa por aí... rs

posta fotos do ape!

beijo

Bruno said...

Se eu tivesse com pressa, eu ia me estressar um pouco mais rápido. Mas a idéia da empresa de marketing de serviços não é ruim.
Sobre o ap... estou esperando o momento certo pra falar sobre o assunto aqui. Senão dá azar.