Friday, August 25, 2006

Das diversas coisas que nossos vizinhos radicais fazem com espantosa perfeição, a que mais me incomoda é o fato deles sempre conseguirem fazer com que Israel se desloque para a direita do mapa político regional.

Ontem, uma pesquisa publicada no jornal Yediot Aharonot, indica que a maioria dos israelenses, 63%, acha que o primeiro ministro Olmert deveria renunciar após o “fracasso” na guerra. Na mesma pesquisa, uma pergunta questionando em quem você votaria para primeiro ministro, com 45% dos votos, nosso ilustríssimo líder da direita, aniquilado nas últimas eleições da Knesset há 5 meses atrás, quando todos pensavam que era o fim da sua carreira política… Biniamin Netaniahu!

Nas últimas 2 décadas somos recheados de histórias desse gênero. Aí vão:

* Depois do assassinato de Rabin, em 95, seu parceiro na implementação dos Acordos de Oslo, Shimon Peres, assumiu interinamente o cargo e tinha tudo para dar sequência ao trabalho do amigo e vencer as eleições que aconteceriam no ano seguinte. Eram tempos de verdadeiro otimismo em Israel. Tempos em que o Shalom Achshaiv (Paz Agora) colocava 300.000 pessoas em eventos pela paz numa praça de Tel Aviv. Às vésperas das eleições, uma sequência violenta de atentados terroristas em Israel faz a opinião pública mudar de lado. O povo passou a optar pela política da Segurança com Paz (direita) ao invés da política vigente Paz com Segurança (esquerda). E dá-lhe Bibi nas urnas!

* Em 99, a esquerda conseguiu voltar ao poder depois de uma atuação desastrosa do então PM, Bibi, com a promessa de voltar às negociações de paz com os palestinos. Barak tentou fazer muito mais e foi derrubado 1 ano depois, não pela direita israelense, mas por nossos vizinhos palestinos. Mais precisamente, Yasser Arafat. Após coordenar unilateralmente a retirada das tropas israelenses da faixa de segurança no sul do Líbano em 2000 (que as consequências são exatamente essas que nós estamos acompanhando agora), Barak ofereceu 97% do território da Cisjordânia para que seu amigo Yasser pudesse fundar seu tão sonhado estado (ou nem tanto), mas… Yasser recusou. “Ou Jerusalém, ou nada!” Era o fim de Barak. No ano seguinte, é eleito o novo líder da direita e velho conhecido dos libaneses, Arik Sharon.

* Sharon se saiu melhor do que a encomenda e conquistou o coração de boa parte da esquerda com o plano de retirada unilateral dos territórios. Sharon atingiu a incrível marca de primeiro ministro com maior aprovação do povo de toda história de Israel. Saiu da direita e foi pro centro levando consigo uma legião de deputados e eleitores. Quando mais uma vez, parecíamos ter encontrado o caminho certo para a convivência com nossos vizinhos, a partir do dia seguinte da retirada das colônias na Faixa de Gaza, fomos presenteados (e ainda estamos sendo!) com lançamentos constantes de bombas kassam às cidades israelenses vizinhas da Faixa. Mais uma tentativa dos palestinos de nos impôr um governo de direita menos flexível e que vai contra os seus ideais (ou nem tanto).

* 6 anos após a retirada das tropas israelenses do sul do Líbano, a guerra atual mostra uma história bem parecida com os exemplos acima citados. Afinal de contas, o que será do Hesbollah se Israel assinar um acordo de paz com o Líbano? Do que eles vão viver?

Hoje houve uma manifestação com muitas famílias de soldados que caíram na guerra pedindo a saída do PM Olmert. A manifestação foi feita em frente ao túmulo da ex-PM Golda Meir, sugerindo que Olmert siga como exemplo o gesto de Golda que renunciou após a “derrota moral” na Guerra de Yom Kipur.

Eu acho a analogia com a guerra de Yom Kipur interessante. Se nós realmente perdemos essa guerra de agora, isso pode ser um bom sinal. Explico: Depois de todos os esforços que Israel fez para a paz nos últimos 15 anos, quem saiu fortalecido? A direita israelense e os árabes radicais. Já depois da guerra “perdida” de Yom Kipur, Israel assinou seu primeiro acordo de paz 6 anos depois. Quem sabe não estamos entrando em verdadeiros tempos de paz?

3 comments:

nelson said...

exatamente isso...parabens...e tomara que o desfecho seja esse mesmo.

|3run0 said...

Muito bom este post! Em termos práticos, quem mais tem a perder com acordos de paz são os grupos militantes. Em termos ideológicos, a maior parte destes grupos são contra qualquer tipo de acordo com Israel.

As últimas ações dos grupos palestinos e do HA (kassams e sequestro a partir de Gaza, sequestros a partir do Líbano) parecem ter como propósito convencer os israelenses que se retirar para fronteiras reconhecidas internacionalmente não é garantia de segurança. Considerando que tais retiradas em troca de paz são a premissa fundamental de qualquer acordo concebível, temos que concluir que os militantes palestinos em particular ou são completos mentecaptos ou tem objetivos que divergem ou vão além das aspirações nacionais legítimas dos palestinos.

Os sucessivos governos israelenses, do Likud, trabalhistas ou Kadima, também perderam várias oportunidades de fortalecer os moderados (ou pragmáticos) do lado palestino. E.g. quando o Sharon se recusou a liberar varios prisioneiros como gesto de boa vontade para com o Abu Abbas, para logo em seguida liberar praticamente o mesmo número em uma troca de prisioneiros com o HA. Me parece porém que entre os israelenses existe uma noção mais clara atualmente de que este tipo de intransigência é contraproducente. O meu medo é que para os Bibis e Effi Eitans da vida intransigência dogmatica é um compromisso ideológico,

|3run0 said...

Muito bom este post! Em termos práticos, quem mais tem a perder com acordos de paz são os grupos militantes. Em termos ideológicos, a maior parte destes grupos são contra qualquer tipo de acordo com Israel.

As últimas ações dos grupos palestinos e do HA (kassams e sequestro a partir de Gaza, sequestros a partir do Líbano) parecem ter como propósito convencer os israelenses que se retirar para fronteiras reconhecidas internacionalmente não é garantia de segurança. Considerando que tais retiradas em troca de paz são a premissa fundamental de qualquer acordo concebível, temos que concluir que os militantes palestinos em particular ou são completos mentecaptos ou tem objetivos que divergem ou vão além das aspirações nacionais legítimas dos palestinos.

Os sucessivos governos israelenses, do Likud, trabalhistas ou Kadima, também perderam várias oportunidades de fortalecer os moderados (ou pragmáticos) do lado palestino. E.g. quando o Sharon se recusou a liberar varios prisioneiros como gesto de boa vontade para com o Abu Abbas, para logo em seguida liberar praticamente o mesmo número em uma troca de prisioneiros com o HA. Me parece porém que entre os israelenses existe uma noção mais clara atualmente de que este tipo de intransigência é contraproducente. O meu medo é que para os Bibis e Effi Eitans da vida intransigência dogmatica é um compromisso ideológico,